
Florestas que alimentam: o papel vital das florestas na nutrição de pessoas e animais
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Este ano, o Dia Mundial das Florestas é celebrado pelo papel delas em também produzir alimentos – para as pessoas e para os animais –, mas elas vêm sendo destruídas por quem diz querer alimentar o mundo
Neste dia 21 de março em que é celebrado o Dia Internacional das Florestas, as Nações Unidas elegeram como tema um benefício das florestas para a vida no planeta que é pouco refletido pela maioria das pessoas, especialmente aquelas que vivem nas cidades: a segurança alimentar.
Sim, esses ecossistemas essenciais para o abrigo de milhões de espécies, para a regulação do clima e para a produção de água também é fonte de comida tanto para a fauna silvestre como para populações humanas. Mas a irônica contradição da nossa sociedade exploratória é que hoje estamos destruindo nossas florestas em um ritmo alarmante por meio do avanço da agropecuária justamente sob o argumento de que precisamos alimentar o mundo!
As florestas ofertam alimentos que nutrem comunidades inteiras ao redor do mundo. Frutas das mais variadas, raízes, castanhas, mel e cogumelos são apenas alguns dos recursos consumidos diretamente por povos tradicionais e populações rurais, mas também pela população urbana, como o popular açaí e a castanha-do-pará.
Cerca de 1,6 bilhão de pessoas - incluindo mais de 2 mil culturas indígenas - dependem das florestas para sua subsistência, segundo a própria ONU. Além disso, plantas medicinais e especiarias de valor nutricional e terapêutico têm origem nesses ambientes, demonstrando que a floresta é fonte essencial de vida, saúde, cura e nutrição para todos – seres da floresta e da cidade.
No Dia da Floresta, celebramos não apenas a beleza e a biodiversidade delas, mas também seu papel vital na nossa sobrevivência nutricional. A alimentação é mais do que uma necessidade; é uma expressão de cultura, identidade e valores.
As florestas nativas fornecem ingredientes essenciais que enriquecem receitas tradicionais, carregando consigo valores insubstituíveis para as comunidades locais. Além de nutrir, são farmácias vivas, oferecendo chás, ervas e remédios naturais que curam, fortalecem e equilibram. De suas raízes, folhas e frutos nascem saberes ancestrais e tratamentos que atravessam gerações, servindo tanto à medicina popular quanto à indústria farmacêutica, que busca na floresta princípios ativos para novos medicamentos e terapias.
Imagine não poder mais saborear aquela receita especial preparada com carinho por um ente querido, que traz conforto e um senso de pertencimento. Assim como essa refeição nos conecta às nossas raízes e nos faz sentir acolhidos, as florestas são fundamentais para manter viva a cultura e a identidade das pessoas que dependem delas.
Para os animais, as florestas são um verdadeiro banquete. Desde insetos até grandes mamíferos, todos dependem delas para obter alimento. As folhas, frutos, sementes e pequenos organismos que vivem nos rios e no solo garantem a barriga cheia para incontáveis espécies.
Para os seres humanos são elas quem conservam o solo, garantem água e nutrientes para a produção de alimentos. A DIVERSIDADE presente nelas proporciona equilíbrio e real sustentabilidade por conferir mais resiliência aos ambientes, fazendo com que tudo o que é necessário na produção de alimentos se mantenha e mantenha as suas funções sem se esgotar.
Esse equilíbrio, no entanto, está ameaçado pelo desmatamento, e fato é que, no Brasil, esse desmatamento ainda é liderado pelo agronegócio. Segundo o Mapbiomas, 97% das áreas desmatadas no país nos últimos cinco anos teve como vetor a agropecuária. Derrubam florestas para colocar no lugar lavouras de algumas poucas culturas que nem são de fato comida, mas sim, mercadorias, comodities como soja, milho, algodão, cana-de-açúcar, tabaco.
Ao reduzir as áreas de alimentação a essa monotonia, o agronegócio e a pecuária industrial colocam em risco tanto a fauna selvagem quanto todas as populações humanas que dependem, de forma mais ou menos intensa, diretamente desses recursos. É urgente, portanto, repensar esse modo de produzir, e mudar essa dinâmica de forças econômicas.
Nós, enquanto sociedade, precisamos reconhecer esse problema e reivindicar o redirecionamento da maior parte dos investimentos e financiamento público do agronegócio industrial para outras formas de produzir verdadeiramente sustentáveis. A agricultura familiar é quem tem protagonizado essa maneira muito mais sábia e justa de lidar com a terra, e quem sempre foi a responsável pela comida de verdade que chega à sua mesa.
Florestas aliadas da agricultura
A diferença das florestas para as grandes plantações do agronegócio, portanto, é que as primeiras conseguem produzir comida sustentando um delicado equilíbrio ecológico, enquanto o agronegócio precisa destruir ecossistemas inteiros, usando químicos, trazendo insumos de fora e desmatando para promover pastagens e monoculturas.
As florestas nativas desempenham um papel essencial na proteção das genéticas de sementes locais, crioulas e não transgênicas, contribuindo para a preservação da biodiversidade e a sustentabilidade agrícola. Por serem reservatórios de diversidade genética, abrigando uma ampla variedade de espécies vegetais esses ambientes preservam a diversidade, que é crucial para a manutenção das sementes crioulas, que são adaptadas às condições locais e possuem resistência natural a pragas e doenças.
As florestas também fornecem habitat para polinizadores e dispersores de sementes, como abelhas, pássaros e outros animais. Esses agentes são fundamentais para a reprodução das plantas e a manutenção das populações de sementes crioulas.
Muitas culturas agrícolas dependem da proteção oferecida pela das florestas próximas contra a erosão e mudanças climáticas, e dos seus serviços de polinização e ciclagem de nutrientes, o que reforça a necessidade de preservar esses ecossistemas para garantir a segurança alimentar das futuras gerações.
Agrofloresta: solução baseada na natureza
O Brasil tem a meta de restaurar 12 milhões de hectares de áreas degradadas até 2030. Boa parte disso já foi floresta um dia, e hoje são pastagens degradadas. Uma das soluções que defendemos na Proteção Animal Mundial é que essa restauração seja feita pela união da agricultura agroecológica e familiar com a floresta, aliadas a fundamental refaunação, por meio de práticas de reintrodução de animais silvestres que contribuem para essa regeneração.
As agroflorestas, ou SAFs (Sistemas Agroflorestais) como são chamadas tecnicamente, se aproximam mais da dinâmica das florestas naturais, combinando árvores nativas com cultivos agrícolas e espécies florestais de interesse econômico. Além de recuperarem solos esgotados, as agroflorestas melhoram a infiltração da água, reduzem a erosão e sequestram carbono, ajudando a minimizar os efeitos das mudanças climáticas, e ainda aumentam a biodiversidade na região, podendo ser usadas também para a recomposição de corredores ecológicos.
Ao promover o uso racional da terra, as agroflorestas garantem a produção contínua de alimentos, madeira e outros recursos sem comprometer o equilíbrio ecológico, demonstrando que é possível produzir e preservar ao mesmo tempo, e da mesma forma, garantir a segurança alimentar e combater as mudanças climáticas simultaneamente.
Proteger as florestas é proteger animais e seres humanos, e nossa própria sobrevivência. Neste Dia Mundial das Florestas, reforçamos o compromisso de conservar e restaurar essas áreas essenciais para todas as formas de vida. O combate ao desmatamento e o incentivo a práticas sustentáveis são passos fundamentais para garantir alimentos, saúde, abrigo e equilíbrio ecológico para o planeta.
Você pode ser parte deste compromisso, assine o nosso manifesto em defesa da vida silvestre e apoie o nosso trabalho.